Iluminação na Avicultura
Angélica Signor Mendes (Profª. Drª. Titular da Universidade Tecnológica Federal do Paraná, Câmpus Dois Vizinhos e do Programa de Pós-graduação em Zootecnia da UNIOESTE/UTFPR-DV)
Postado em 04 de novembro de 2022
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Por ser uma variável que influencia todos as fases e categorias da produção, seja para aves de corte, poedeiras ou matrizes, a iluminação nos galpões deve ser considerada com atenção. A iluminância (lúmens/m² = lux), a distribuição, a cor e a duração da luz afetam o desempenho, saúde e o bem-estar do lote. O posicionamento adequado das fontes de luz e sua distribuição estimulam as aves a procurar alimento, água e calor durante a fase de recria. Durante a fase de crescimento, a iluminação pode ser útil para moderar o ganho de peso e otimizar a eficiência da produção, sendo uma útil ferramenta também para o momento da apanha e carregamento.

Durante muitos anos, programas com fotoperíodos de 23 a 24 horas de luz diária foram utilizados pela indústria avícola a fim de proporcionar o máximo consumo alimentar. A utilização deste sistema possibilitava um melhor resultado econômico. Entretanto, o melhoramento genético proporcionou ao mercado uma ave diferente. Estudos surgiram relacionando programas de luz com mortalidade, agressividade e problemas de pernas. Lesões cutâneas na produção de frangos de corte são cada vez mais recorrentes nos processos de integração avícola e, muitas vezes, são devidas a fatores produtivos e ambientais, como a iluminação, por exemplo. Reduzir os impactos de condenação por lesões de pele no frigorífico é um outro ponto a se considerar ao planejar a iluminação no galpão.

Após vários trabalhos, pesquisadores concluíram que um melhor desempenho e bem-estar das aves poderia ser alcançado com fotoperíodos moderados: aumento das horas de sono, menor estresse, melhora na resposta imunológica, etc. (Lewis et al., 2004; Gous et al., 2004; Wang et al., 2005). Mas não se deve esquecer que o manejo da iluminação deve ser pensado e planejado junto com o plano nutricional: um não funciona sem o outro.

Percebe-se que o manejo de luz é uma técnica muito útil e de baixo custo de produção e os princípios que envolvem a importância da iluminação são: fonte de luz e comprimento de onda (cor da iluminação), iluminância (quantidade de lux), duração e distribuição do fotoperíodo (programas de iluminação).

VISÃO DA AVE X HUMANA

Muitas vezes nos aviários, o planejamento dos sistemas de iluminação é baseado na visão humana – o que é um equívoco. Considerando que agora tem-se um melhor entendimento de como a iluminação, especialmente o fotoperíodo, pode afetar as aves em reprodução e produção, o conhecimento das habilidades visuais das aves e sua influência nos principais comportamentos, como o reconhecimento social e a alimentação, faz-se uma necessidade.

Mas enfim: O que é a LUZ? A luz é uma radiação eletromagnética na faixa de comprimentos de onda que o olho humano é capaz de perceber. Esta faixa de radiação das ondas eletromagnéticas detectada pelo nosso olho situa-se entre 380 nm e 780 nm (1nm = 1 nanômetro = 1 milionésimo de milímetro)

Mas observe na Figura abaixo que a visão das aves é distinta da visão humana. A margem que a ave enxerga é mais ampla, especialmente nas cores azuis e ultravioleta.

 

 

Isso deve-se ao fato das aves possuem relativamente olhos maiores em comparação com os humanos, ou seja, em função do tamanho da cabeça e restante do corpo, e cabe a nós compreender que essa não é a única diferença entre essas duas espécies no tocante a visão. Há dois tipos de células fotoreceptoras na retina do olho: bastonetes, que são mais numerosos, altamente sensíveis e possibilitam enxergar em ambientes com pouca luz, e cones, que são responsáveis pelas condições de visão normais durante o dia. A imagem produzida pelos bastonetes é pouco definida, pois há muitas imagens ligadas a uma única fibra nervosa. Entretanto, um somatório de estímulos fornece aos bastonetes uma alta sensibilidade, no máximo de 507nm (luz azul-verde).

Os olhos das aves têm um tipo adicional de cone na retina com um pico de sensibilidade por volta de 415 nm (Govardovskii & Zueva, 1977; Hart et al., 1999) e este cone permite a percepção de radiações abaixo de 400 nm (Prescott & Wathes, 1999). Somando-se a isso, as lentes dos olhos das aves são opticamente em torno de 320 a 400 nm, isto significa que as aves podem enxergar uma faixa dos raios ultraviloleta.

Diversos pesquisadores abordam os efeitos da cor da iluminação nas aves, veja a Figura abaixo.

FONTES DE LUZ

Os tipos mais comuns de iluminação em galpões para aves no Brasil no momento são as lâmpadas fluorescentes e LED (Light Emissor Diode).

As lâmpadas fluorescentes apresentam maior custo inicial, realmente produzem mais luz por watt, porém a intensidade diminui com o tempo e as lâmpadas necessitam ser substituídas. Esse tipo de lâmpada também possui uma característica que merece ser citada, essa fonte de luz ocasiona uma oscilação imperceptível ao olho humano, porém visível para as aves, também chamada de cintilação. Logo, a ave percebe inúmeras e muito velozes “piscadas” nesse tipo de iluminação, o que obviamente causa um desconforto visual às aves.

As lâmpadas de LED (Light Emissor Diode) estão substituindo progressivamente as lâmpadas fluorescentes na área urbana e representam um avanço tecnológico nas formas de conversão de energia elétrica em luz.  Na avicultura, há muito tempo está comprovada a economia em energia nesse tipo de fonte de luz, a durabilidade da sua vida útil, a baixa quantidade de lâmpadas queimadas, etc. São inúmeras vantagens.

Tecnicamente as lâmpadas de LED possuem outras grandes vantagens, como usar comprimentos de ondas diferentes, ou seja, utilizar a cor da iluminação conforme a idade e categoria das aves (luz verde, azul, vermelha, branca...). Muito relevante é a capacidade da lâmpada de LED ser “dimerizável”, que significa que com a mesma lâmpada pode-se fornecer diferentes iluminâncias (quantidade de lux). Por isso, o manejo da iluminação na atualidade é capacitado a iniciar o lote de frangos de corte com 25 lux e finalizar o lote com 5 lux, por exemplo: utilizando a mesma lâmpada!!

A instalação das lâmpadas é um ponto crucial ao correto manejo da iluminação. Se a iluminância é a quantidade de luz ou fluxo luminoso que atinge uma unidade de área de uma superfície por segundo, ao instalar as lâmpadas em uma distância maior do objeto a iluminar, no aviário para frangos de corte seria a cama, aumenta-se a área atingida e, com isso, reduz-se a quantidade de lux. Por isso, programas computacionais que simulam a distribuição da iluminação nos galpões tem sua grande utilidade.

 

           

 

 

 

 

 

A distribuição das lâmpadas em fileiras desalinhadas, como na Figura abaixo, apresenta uma boa homogeneidade da quantidade de lux no piso do aviário. São grandes hexágonos com uma lâmpada no meio e evitam, que uma lâmpada forneça iluminação em cima da outra.

 

 

 

 

 

INFLUÊNCIA DA ILUMINAÇÃO NAS AVES

O fotoperíodo é essencialmente uma alteração na iluminância. Assim, é esperado que a cor, que é essencialmente uma alteração na intensidade em certos comprimentos de onda, afete o crescimento e o comportamento das aves. A luz visível é uma pequena coleção de comprimentos de onda, oriundos de uma série muito maior, e é chamada de espectro electromagnético. As antigas luzes incandescentes apresentavam um aspecto de luz vermelha, enquanto que as luzes fluorescentes brancas apresentam um aspecto azulado. Isto acontece porque as luzes incandescentes produzem comprimentos de onda mais longos (vermelho) enquanto que luzes fluorescentes, mais curtos (verde e azul).

Pesquisadores (Lewis & Morris, 2006) indicam que a habilidade das aves em visualizar cores é similar à dos humanos, exceto pelas aves não conseguirem ver com precisão a luz de onda curta. Este artifício tem sido utilizado para facilitar o manuseio dos frangos no momento da apanha, ou seja, utilizar iluminação azul visto que elas ficam mais calmas por enxergarem muito pouco.

Alguns comprimentos de onda específicos têm um forte impacto sobre certas características de produção com efeitos similares em perus e frangos. Aves expostas a comprimentos de onda curtos apresentam melhor ganho de peso e eficiência alimentar. Existe a hipótese de que o efeito sobre o crescimento possa ser explicado pelo estímulo da atividade da ave pela luz de longo comprimento de onda, a qual penetra na cavidade craniana, e não pelo efeito da luz sobre a produção de gonadotrofinas. Se a atividade é aumentada em aves expostas a longos comprimentos de onda e a eficiência alimentar é piorada, o ganho de peso pode ficar comprometido. Durante os primeiros dias da criação de frangos, a luz tipo onda curta estimula o crescimento, enquanto que, a maturidade sexual é acelerada pela luz de onda longa.  Existem estudos investigando a possibilidade de utilizar luz azul durante todo o crescimento dos frangos. Isto decorre do fato de que as aves expostas à luz azul e verde mantêm-se mais calmas do que aquelas expostas à luz branca ou vermelha.

Por: Angélica Signor Mendes (Profª. Drª. Titular da Universidade Tecnológica Federal do Paraná, Câmpus Dois Vizinhos e do Programa de Pós-graduação em Zootecnia da UNIOESTE/UTFPR-DV)

Referências Bibliográficas:

Gous, R.M. & Cherry, P. (2004) Effects of body weight at, and lighting regimen and growth curve to, 20 weeks on layng performance in broiler breeders. British Poultry Science 45, 445-452.

Govardovskii, V.I.; Zueva, L.V. 1977. Visual pigments of chicken and pigeon. Vision research 17, 537-543.

Hart, N.S.; Partridge, J.C.; Cuthill, I.C. 1999. Visual pigments, cone oil droplets, ocular media and predicted spectral sensitivity in the domestic turkey (Meleagris gallopavo). Vision Research 39 (20), 321-3328.

Lewis, P.D., Backhouse, D. & Gous, R.M. (2004) Photoperiod and oviposition time in broiler breeders. British Poultry Science 45, 561-564.

Lewis, P.D & Morris, T. (2006).Poultry Lighting – the theory and practice. Northcot: United Kingdon. 380p. 2006.

PRAYITNO, D.S.; PHILLIPS, C.J.C.; OMED, H. The effects of color of lighting on the behaviour and production of meat chickens. Poult. Sci. v.76, p.452–457, 1997a.

Prescott N.B.; Wathes, C.M. 1999. Spectral sensitivity of the domestic fowl. Bitish Poultry Science 40, 332-339.

Wang, C.M., Kao, J.Y., Lee, S.R. & Chen, L.R. (2005) Effects of artificial supplement light on reproductive season of geese kept in open houses. British Poultry Science 46, 728-732.

 
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